Friday, November 28, 2003
Prezado Compadre Quelemem,
Não se trata de inimizade nem intriga, trata-se de um inimigo em comum: O computador (esse ser inanimado produzido por megacorporações que introduzimos por "livre" e espancada vontade em nossos lares e estações de trabalho para nos bombardear com a sua radiação de neutrons e propagandas).
Para combatermos com exito temos que conhecer o inimigo nos seus mais intimos aspectos. É que Ele (o Computador) possui uma parte imaterial que Eles (as Megacorporações) chamam de software, um nome que até disfarça bem a força imaterial qual representa.
Entre os poderes desta entidade está a foça capaz de provocar alterações sensoriais quando computadores de Familias (clãs de Megacorporações) diferentes se comunicam.
Desta maneira o que nós cumpadres escrevemos em máquinas de uma Familia se distorcem na leitura dos Homens (seres comandados pelas máquinas das quais vos falo) que manipulam máquinas da Familia adversária (dizem que elas estão em guerra).
Para driblarmos (coisa que os brasileiros dizem saber fazer muito bem) as letras miudinhas e corrigirmos as distorções de ordem imaterial podemos apelar para um truque fácil ("easy" na linguagem das Familias).
Basta pressionar as teclas "maçã" (referencia ao pecado capital) + "shift" + o sinal de positivo no teclado.
A operação inversa se consegue apertando no mesmo conjunto o sinal de negativo.
Arresorvido Cumpadi?
Inté.
Não se trata de inimizade nem intriga, trata-se de um inimigo em comum: O computador (esse ser inanimado produzido por megacorporações que introduzimos por "livre" e espancada vontade em nossos lares e estações de trabalho para nos bombardear com a sua radiação de neutrons e propagandas).
Para combatermos com exito temos que conhecer o inimigo nos seus mais intimos aspectos. É que Ele (o Computador) possui uma parte imaterial que Eles (as Megacorporações) chamam de software, um nome que até disfarça bem a força imaterial qual representa.
Entre os poderes desta entidade está a foça capaz de provocar alterações sensoriais quando computadores de Familias (clãs de Megacorporações) diferentes se comunicam.
Desta maneira o que nós cumpadres escrevemos em máquinas de uma Familia se distorcem na leitura dos Homens (seres comandados pelas máquinas das quais vos falo) que manipulam máquinas da Familia adversária (dizem que elas estão em guerra).
Para driblarmos (coisa que os brasileiros dizem saber fazer muito bem) as letras miudinhas e corrigirmos as distorções de ordem imaterial podemos apelar para um truque fácil ("easy" na linguagem das Familias).
Basta pressionar as teclas "maçã" (referencia ao pecado capital) + "shift" + o sinal de positivo no teclado.
A operação inversa se consegue apertando no mesmo conjunto o sinal de negativo.
Arresorvido Cumpadi?
Inté.
Tuesday, October 21, 2003
"(...)Milhões de homens viviam em uma imensa construção sem porta nem janela. Inúmeras lâmpadas de óleo competiam com sua escassa luz contra as trevas que reinavam permanentemente. Como era de costume desde a mais remota antigüidade, a sua manutenção cabia aos pobres, e por isso o preço do óleo refletia fielmente a alternância entre a revolta e a calmaria. Um dia eclodiu uma insurreição geral, a mais violenta que esse povo já conhecera. os seus líderes exigiam uma justa repartição das despesas de iluminação. Um grande número de revolucionários reivindicava a gratuidade daquilo a que chamavam um serviço de utilidade pública. Alguns extremistas chegavam ao ponto de exigir a própria destruição do edifício, que consideravam insalubre e impróprio para a habitação humana. Como de costume, os mais razoáveis se encontraram desarmados perante a brutalidade dos combates. No decorrer de um encontro particularmente violento com as forças da ordem, uma bala de canhão mal direcionada abriu um buraco na muralha externa, por onde fluiu a luz do dia.
Passado o primeiro momento de estupor, esse afluxo de luz foi saudado por gritos de vitória. Era essa a solução: agora bastava abrir outros buracos. As lâmpadas foram postas de lado ou colocadas em museus, e o poder coube aos abridores de janelas. Os partidários de uma destruição radical foram esquecidos, e até mesmo a sua discreta eliminação, pelo que parece, passou quase desapercebida. (As discussões incidiam sobre o número e localização das janelas.) Depois, um século ou dois mais tarde, os seus nomes foram lembrados quando o povo, esse eterno descontente, acostumado a ver varandas envidraçadas começou a levantar extravagantes questões:"arrastar os dias numa estufa climatizada será viver?", perguntavam. (...)"
Raoul Vaneigem " A Arte de Viver para as Novas Gerações".
Passado o primeiro momento de estupor, esse afluxo de luz foi saudado por gritos de vitória. Era essa a solução: agora bastava abrir outros buracos. As lâmpadas foram postas de lado ou colocadas em museus, e o poder coube aos abridores de janelas. Os partidários de uma destruição radical foram esquecidos, e até mesmo a sua discreta eliminação, pelo que parece, passou quase desapercebida. (As discussões incidiam sobre o número e localização das janelas.) Depois, um século ou dois mais tarde, os seus nomes foram lembrados quando o povo, esse eterno descontente, acostumado a ver varandas envidraçadas começou a levantar extravagantes questões:"arrastar os dias numa estufa climatizada será viver?", perguntavam. (...)"
Raoul Vaneigem " A Arte de Viver para as Novas Gerações".
Saturday, October 04, 2003
"Todos, mais ou menos confusamente, sentem a necessidade de nascer. Mas há soluções que enganam. Certamente podem-se animar os homens vestindo os de uniformes. Eles logo cantarão seus cantos de guerra e repartirão o pão entre si, como companheiros. Terão achado o que procuravam, o gosto do universal. Mas vão morrer desse pão que lhes é dado.
Podem-se desenterrar os ídolos de madeira e ressuscitar os velhos mitos que, bem ou mal, já mostraram seu valor. Podem-se ressuscitar as místicas do Império Romano ou do Pan-germanismo. Podem-se embriagar os alemães da embriaguez de ser alemães e patrícios de Beethoven. Pode-se embriagar com isso até o carvoeiro. É, certamente, mais fácil que tirar do carvoeiro um Beethoven.
Mais tais ídolos são ídolos carnívoros. Quem morre pelo progresso da Ciência ou para descobrir a cura de uma doença serve a vida ao mesmo tempo que morre. É talvez belo morrer pela expansão de um território, mas a guerra de hoje destrói o que pretende favorecer. Hoje não se trata mais de sacrificar um pouco de sangue para vivificar toda uma raça. Uma guerra, desde que é feita com o avião e a iperite, é apenas uma cirurgia sangrenta. Cada um se coloca ao abrigo de uma muralha de cimento; cada um, não tendo nada melhor a fazer, lança, noite após noite, esquadrilhas que torpedeiam o outro em suas entranhas, fazem saltar pelos ares seus centros vitais, paralisam sua produção e suas trocas. A vitória é de quem apodrece por último. E os dois adversários apodrecem juntos."
Saint-Exupéry, em Terra dos Homens.
Podem-se desenterrar os ídolos de madeira e ressuscitar os velhos mitos que, bem ou mal, já mostraram seu valor. Podem-se ressuscitar as místicas do Império Romano ou do Pan-germanismo. Podem-se embriagar os alemães da embriaguez de ser alemães e patrícios de Beethoven. Pode-se embriagar com isso até o carvoeiro. É, certamente, mais fácil que tirar do carvoeiro um Beethoven.
Mais tais ídolos são ídolos carnívoros. Quem morre pelo progresso da Ciência ou para descobrir a cura de uma doença serve a vida ao mesmo tempo que morre. É talvez belo morrer pela expansão de um território, mas a guerra de hoje destrói o que pretende favorecer. Hoje não se trata mais de sacrificar um pouco de sangue para vivificar toda uma raça. Uma guerra, desde que é feita com o avião e a iperite, é apenas uma cirurgia sangrenta. Cada um se coloca ao abrigo de uma muralha de cimento; cada um, não tendo nada melhor a fazer, lança, noite após noite, esquadrilhas que torpedeiam o outro em suas entranhas, fazem saltar pelos ares seus centros vitais, paralisam sua produção e suas trocas. A vitória é de quem apodrece por último. E os dois adversários apodrecem juntos."
Saint-Exupéry, em Terra dos Homens.
Friday, September 26, 2003
Geografia do Brasil
Não é que em um trabalho de campo em Joanópolis, pela matéria de hidrografia, o jovem estudante de Geografia se viu diante de uma placa na entrada de uma propriedade, que ostentava uma frase brilhante e reveladora da mentalidade local:
"Se a sua estrela não brilha, não tente apagar a minha!"
Não é que em um trabalho de campo em Joanópolis, pela matéria de hidrografia, o jovem estudante de Geografia se viu diante de uma placa na entrada de uma propriedade, que ostentava uma frase brilhante e reveladora da mentalidade local:
"Se a sua estrela não brilha, não tente apagar a minha!"
Monday, September 22, 2003
Oração do Piloto - Para você rezar todo dia antes de sair de carro ou moto.
"Senhor J. C. dirigi minhas mãos, meus pés e meus olhos. Guardai os freios da minha moto ou meu carro. Protegei-me nas curvas fechadas e no asfalto molhado. Dirigi minhas rodas, pois elas andam em caminhos tortuosos e ásperos. Guardai-me das colisões e de pneus estourados. Livrai-me das derrapagens. Segurai os animais soltos, assim como pedestres distraidos ou imprudentes. Dai-me cortesia para com outros motoqueiros, motoristas e sobretudo, para com os guardas de tráfego.
Que eu seja cauteloso nas vias movimentadas, atento nos cruzamentos e nunca alcoolizado. Para que, um dia eu vá direto e seguramente (e não antes do prazo estipulado) à garagem celestial."
Tuca Porreta.
"Senhor J. C. dirigi minhas mãos, meus pés e meus olhos. Guardai os freios da minha moto ou meu carro. Protegei-me nas curvas fechadas e no asfalto molhado. Dirigi minhas rodas, pois elas andam em caminhos tortuosos e ásperos. Guardai-me das colisões e de pneus estourados. Livrai-me das derrapagens. Segurai os animais soltos, assim como pedestres distraidos ou imprudentes. Dai-me cortesia para com outros motoqueiros, motoristas e sobretudo, para com os guardas de tráfego.
Que eu seja cauteloso nas vias movimentadas, atento nos cruzamentos e nunca alcoolizado. Para que, um dia eu vá direto e seguramente (e não antes do prazo estipulado) à garagem celestial."
Tuca Porreta.
Sunday, September 21, 2003
"Ainda não saimos do tempo dos traficantes de escravos negros. Nos transportes públicos que as lançam umas contra as outras com uma indiferença estatística, as pessoas assumem uma expressão insuportável de decepção, de altivez e de desprezo - uma expressão muito parecida com o efeito natural da morte numa boca sem dentes. O ambiente de falsa comunicação faz de cada um o policial de seus próprios conflitos. O instinto de fuga e de agressão segue a trilha dos cavaleiros do trabalho assalariado, que devem agora contar com os metrôs e trens suburbanos para fazer suas lamentáveis viagens. Se os homens se transformaram em escorpiões que picam a si mesmos e aos outros, não será afinal porque nada aconteceu e os seres humanos de olhos vagos e cérebro murcho se tornaram misteriosamente sombras de homens, fantasmas de homens e, até certo ponto, nada têm de homens além do nome?"
Raoul Vaneigem, em "A Arte de Viver Para as Novas Gerações".
Raoul Vaneigem, em "A Arte de Viver Para as Novas Gerações".
Friday, September 19, 2003
"Se fizermos uma comparação com os índios, poderemos dizer que os civilizados são uma sociedade sofrida. O índio, por sua vez, estacionou no tempo e no espaço. O mesmo arco que ele faz hoje, seus antepassados faziam há mil anos. Se eles pararam nesse sentido, evoluíram quanto ao comportamento do homem dentro da sua sociedade. O índio em sua tribo tem um lugar estável e tranqüilo. É totalmente livre, sem precisar dar satisfações de seus atos a quem quer que seja. Toda estabilidade tribal, toda coesão está assentada num mundo mítico. Que diferença enorme entre as duas humanidades: uma, tranqüila, onde o homem é dono de todos os seus atos; outra, uma sociedade em explosão, onde é preciso um aparato, um sistema repressivo para poder manter a ordem e a paz dentro da sociedade. Se um indivíduo der um grito no centro de São Paulo, uma rádio-patrulha poderá levá-lo preso. Se um índio der um tremendo berro no meio de uma aldeia, ninguém olhará para ele, nem irá perguntar porque ele gritou. O índio é um homem livre."
Orlando Villas Boas (revista Visão, 10/2/75)
Orlando Villas Boas (revista Visão, 10/2/75)